Embora nós vivamos em um ambiente sujeito a amplas variações nas suas condições, com extremos de temperatura, umidade do ar, pressão de O
2, qualidade do ar, etc., o ambiente interno em que as células estão, sofre pequenas alterações. Isto porque somos dotados de mecanismos de proteção e regulação que por exemplo aquecem o ar frio que inalamos, umedece o ar seco e mantém o fluxo sangüíneo dentro de limites ideais.
Pequenas variações, como por exemplo pequenas oscilações da oferta de glicose são toleradas sem prejuízo para as células, que permanecem integras funcional e morfologicamente (
homeostase).
Em algumas situações, como uma demanda por maior trabalho das fibras musculares, pode ocorrer
adaptação celular, neste caso
hipertrofia. Estas adaptações podem ocorrer em situações normais como a gravidez (
hiperplasia dos ácinos mamários), menopausa (
atrofia do endométrio) ou situações anormais, como ocorre na hipertensão arterial, por causa do aumento da resistência vascular periférica e que produz hipertrofia cardíaca. Caso este estímulo nocivo seja mais intenso ou mais prolongado, a capacidade adaptativa da célula é excedida e ocorre
lesão celular.
Esta lesão celular pode ser
reversível ou
irreversível.
A
lesão celular reversível ocorre quando a célula agredida pelo estímulo nocivo sofre alterações funcionais e morfológicas, porém mantém-se viva, recuperando-se quando o estímulo nocivo é retirado ou cessa.
A l
esão celular é irreversível quando a célula torna-se incapaz de recuperar-se depois de cessada a agressão, caminhando para a
morte celular.
Causas de lesão celular
1) Privação de oxigênio (hipóxia ou anóxia) - asfixia, altitudes extremas
2) Isquemia - obstrução arterial.
3) Agentes físicos - trauma mecânico, queimaduras, radiação solar, choque elétrico.
4) Agentes químicos - álcool, medicamentos, poluentes ambientais, venenos, drogas ilícitas.
5) Agentes infecciosos - vírus, bactérias, fungos.
6) Reações imunológicas - doenças auto-imunes, reação anafilática.
7) Defeitos genéticos - anemia falciforme.
8) Alterações nutricionais - obesidade, mal-nutrição.
Mecanismos de lesão celular
Princípios:
1) A resposta celular depende do
tipo da agressão, sua
duração e sua
intensidade
2) As conseqüências da agressão à célula dependem do
tipo celular,
estado e
adaptabilidade da célula agredida.
3) As lesões celulares causam
alterações bioquímicas e funcionais em um ou mais
componentes celulares.
a) respiração aeróbia
b) membranas celulares
c) síntese protéica
d) citoesqueleto
e) aparato genético da célula
Mecanismos
1 - Depleção do ATP
2 - Lesão mitocondrial
3 - Influxo de cálcio para o citosol e perda da homeostase do cálcio
4 - Acúmulo de radicais livres do oxigênio
5 - Defeitos na permeabilidade das membranas
Quando há
depleção do ATP (por anóxia, isquemia, envenenamento), a falta de energia produz falha das bombas de sódio e potássio, que são localizadas na membrana celular. Com isto há entrada de Na e água e saída de K, produzindo
edema intracelular.
A célula então inicia
glicólise anaeróbia, que é menos eficiente, gerando menos energia, produzindo substâncias ácidas (ácido lático, fosfatos inorgânicos) e exaurindo os depósitos celulares de glicogênio. Com isto há
queda do pH intracelular.
A falha na
bomba de Cálcio faz com que o cálcio comece a se acumular no citosol,
ativando enzimas tais como as proteases, ATPases, endonucleases e outras, que causam destruição de componentes importantes da célula (proteínas, ATP, ácidos nucléicos,membranas), podendo levar à morte celular.
O retículo endoplasmático rugoso começa a perder os seus ribossomos, ocorrendo
prejuízo ou parada da produção de proteínas (estruturais e funcionais), o que pode culminar na morte da célula.
Lesão mitocondrial
Lesões celulares freqüentemente são acompanhadas por alterações morfológicas das mitocôndrias. As mitocôndrias são lesadas por diversos mecanismos, tais como perda da homeostase do cálcio, cuja concentração aumenta no citosol,
stress oxidativo e fragmentação dos fosfolipídios. O aparecimento de poros na membrana mitocondrial pode levar à morte da célula.
Influxo de cálcio para o citosol e perda da homeostase do cálcio
A homeostase do cálcio é indispensável para a manutenção das funções celulares. A falência da bomba de cálcio promove a sua
entrada para a célula e seu
acúmulo no citoplasma, além do seu
escape das mitocôndrias e do retículo endoplasmático para o citosol. O cálcio promove a
ativação de diversas enzimas. Estas enzimas ativadas promovem a inativação do ATP (
ATPases), lise das membranas celulares (
fosfolipases), lise das proteínas estruturais e das membranas (
proteases) e fragmentação da cromatina (
endonucleases).
Acúmulo de radicais livres do oxigênio
Como conseqüência do metabolismo celular normalmente há formação de pequena quantidade de radicais livres, que tem
potencial lesivo para as células. Estas possuem mecanismos de defesa que evitam danos por estes radicais livres (
vitamina C, catalase, super óxido-dismutases, glutation peroxidase, ferritina, ceruloplasmina). Porém um desequilíbrio neste sistema (aumento da formação e/ou diminuição da inativação) pode levar a lesões celulares. Há diversos mecanismos para formação destes radicais livres:
absorção de radiação ionizante, metabolismo de determinadas drogas, geração de óxido nítrico (NO) e outros. As conseqüências desta agressão por radicais livres são diversas, mas as principais são:
peroxidação dos lipídios das membranas, oxidação de proteínas e lesões do DNA.
Defeitos na permeabilidade das membranas
A perda da permeabilidade seletiva das membranas celular, mitocondrial, lisossomal, causa uma série de transtornos à célula, permitindo a entrada ou escape de substâncias. Esta lesão pode ser causada por
falta de energia (isquemia) ou por
lesão direta por toxinas, vírus, substâncias químicas, fragmentos do complemento, etc. Os mecanismos bioquímicos envolvidos são:
disfunção mitocondrial, perda de fosfolipídios das membranas, anormalidades no citoesqueleto, radicais livres, subprodutos da fragmentação dos lipídios.
As lesões celulares reversíveis podem levar à i
nchação da célula (edema celular) ou ao
acúmulo de gordura (esteatose).
O
edema intracelular ocorre quando a célula é incapaz de manter o seu equilíbrio iônico, ocorrendo
entrada e acúmulo de sódio e água na célula. Ao microscópio ótico nota-se aumento do tamanho da célula, que geralmente torna-se arredondada e com citoplasma pálido, às vezes percebendo-se pequenos vacúolos. O núcleo mantém-se na sua posição normal. Ocorre princialmente nas células tubulares renais e nas células miocárdicas. Macroscopicamente o órgão acha-se com peso e volume aumentados, pálido e túrgido.
A
esteatose ocorre por hipóxia, agressão por toxinas ou alterações metabólicas. Neste caso formam-se
vacúolos pequenos ou grandes de gordura no citoplasma, que podem deslocar o núcleo para a periferia da célula. Ocorre principalmente nos hepatócitos e células miocárdicas. Macroscopicamente o órgão acha-se com peso e volume aumentados, mole, amarelado.
As
lesões celulares irreversíveis levam à
morte da célula por um de dois possíveis mecanismos:
necrose ou
apoptose.
Pode-se definir
necrose como as alterações que ocorrem após a morte celular em um organismo vivo. É
sempre patológica e habitualmente provoca inflamação no local afetado. Estas alterações podem ser inicialmente vistas ao microscópio eletrônico, posteriormente ao microscópio ótico e finalmente a olho nu.